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O cavalo que pendia para a esquerda

O cavalo vivia inclinado para a esquerda,

Todos suspeitavam de um problema,

Alguns tentavam ser piedosos:

-É doença

-É tristeza

Outros mais complacentes:

-é a idade

Os mais bocudos e autossuficientes como a cobra e as hienas satirizavam:

-trocou o pneu e esqueceu de tirar o macaco!

-hemorróidas – riam as hienas.

O fato que levava o cavalo às manchetes da fazenda e não saía da ponta da língua dos animais mais linguarudos, resumia-se a: Simplesmente esse cavalo não é normal.

Mas ninguém nunca sequer perguntou ao cavalo sua atual situação. Pudessem não obter uma resposta agradável ou não. Queriam mesmo é que o assunto vingasse por muito tempo naquela fazenda isolada.

O cavalo por sua vez era um pacato servidor do local, pouco exigia e muito se doava. Protegia os animais propensos a virar alimentação do dono, como o marreco, por exemplo, e garantia sua alegria vigiando a próxima ceia.

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Pendia o animal para a esquerda do estábulo, onde tinha o melhor ângulo de tudo o que acontecia na fazenda. Garantia de entretenimento ou de vida, previnia-se dos dias de mau humor do dono e de quebra avisava de antemão quem viraria o próximo pato, digo...prato do dia.

Costurou um hábito ruim para assistir à televisão da vida dos outros. Mal sabia ele, que era a principal atração, a novela da 9 horas. A mais alta audiência.

Um dia, porém, as patas esquerdas se cansaram e o quadrupede tombou e ali ficou. Redescobriu que deitado era mais confortável e a visão ainda mais ampla, acomodou-se.

O tempo passou, os músculos tornaram-se frágeis e não mais conseguia levantar-se para beber água ou buscar comida. Esvaiu-se enquanto uma plateia animada assistia, comentava e discutia de longe. O porco, no entanto, um dos únicos que pensava em ajudar, era amedrontado pelos animais maiores:

-Vai dar as caras pra que? Quer ir para forno por causa de outro? Não seja burro! Disse o ganso.

-Não meta o focinho onde não é chamado! Alertava o burro, que de burro só tinha a cara e o corpo.

-Vão sentir o teu cheiro de longe kaukauakkuuksuhuhuahkk! Gargalhavam as hienas.

A vaca mãe, outra possível bem feitora, sofria de falta de leite e por isso observava, mas se redimia da obrigatoriedade de ajudar o cavalo, afinal a única coisa que ela podia oferecer (ou achava que), não produzia mais. E por ter essa capacidade de empatia, considerava-se melhor e mais evoluída que os outros dando a desculpa a si mesma:

-Eu queria ajudá-lo mas nem tenho nada pra oferecer mesmo.

E o pobre cavalo que dera sua existência a serviço dos outros, agora apodrecia em parceria com a rede globo. Comprava-se 10 cavalos com a audiência de um único cavalo quase morto!

Desfaleceu!

A multidão se espalhou...

O galo vendedor de pipoca faliu;

A vaca mãe parou de se exercitar até o estábulo para ver sua programação diária que fora abruptamente interrompida;

As hienas não tinham mais assunto para serem engraçadas;

O porco, desatento sem o aviso do cavalo, logo foi para o forno;

O marreco, o protegido, viveu os resto dos dias escondido debaixo de telhas úmidas com medo de virar o próximo pato, digo prato do dia... e logo tornou-se a nova atração.

A plateia esperava ansiosa por uma nova manchete...

E assim, cada um viveu a vida do outro e esqueceu de viver a sua; como também fizera o cavalo.

Conta a história que o cavalo não era normal, assim como sua vizinhança animal.

Esta fábula está para nossa vida bem como 2 +2 são 4

Para boi que é boi entender, se quiser... Cansei de ser o cavalo.

Tatiane S. F. jan-2017



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